terça-feira, abril 25, 2006

Pensamento

Ontem, 24 de Abril de 2006, fui ver as comemorações alusivas ao 32º aniversário do 25 de Abril de 1974. Foi uma festa bonita com musica alusiva à data e o fogo de artificio lindo de se ver. Fica apenas um ligeiro pormenor a salientar que foi o facto de a Bandeira Nacional se negar terminantemente a subir enquanto a Banda tocava a Portuguesa, mas tudo se resolveu e a Bandeira, por fim, lá subiu no mastro como estava previsto. Mas foi quando a Banda começou a tocar o Hino que o meu pensamento voou, e todos sabemos que não há nada nem ninguém que trave o pensamento. Voou para os perto de 500.000 desempregados deste Portugal de Abril, alguns sem qualquer esperança na vida, porque velhos demais para encontrarem emprego, numa actividade diferente daquela que exerceram toda uma vida e novos demais para a reforma. Voou para aqueles que com emprego calam as desconsiderações, as humilhações diárias de que são alvo, abdicando do seu direito à indignação, porque o medo de perderem o emprego fala mais alto do que este direito que Abril trouxe consigo. Voou para os milhares de doentes que desesperam por uma consulta médica, quer nos hospitais quer nos centros de saúde, ou então nas longas listas de espera para, por vezes, realizarem uma simples intervenção cirúrgica. Voou para as famílias que querem dar uma educação digna aos seus filhos, quando esta è já um privilégio de ricos, que podem manter os filhos deslocados de casa, com todas as despesas que isso acarreta, isto se frequentarem o ensino oficial, este espartilhado pelo crivo dos exames nos quais em 90 minutos se joga o futuro de um jovem, ou então no privado onde então aí as coisas piam mais fino e muito mais caro. Voou para os injustiçados do Portugal de Abril, que penam anos e anos que uma Justiça lenta, burocrática e cheia de expedientes, a que recorrem os advogados mais bem pagos da nossa praça, para atrasarem ou avançarem o mais que puderem os processos, em que o interesse de clientes seus cheios de dinheiro e dispostos a pagar assim o exigir, enfim uma justiça de pé de chinelo. Uma justiça para a qual se planeiam reformas sempre adiadas, porque os operadores judiciários e os governos não se entendem, e nem mesmo esses operadores se entendem entre si, um estado onde a justiça não funciona não pode ser considerado de direito e muito menos democrático. Voou para a justiça social, uma das bandeiras de Abril, que tornaria Portugal não num país sem ricos, mas onde os pobres o fossem menos, mas na realidade ao que assistimos è que os ricos são sempre os mesmos e cada vez mais ricos, e os pobres cada vez mais pobres e cada vez em maior numero. Voou para o José Calos Ary dos Santos e para o seu poema “As portas que Abril abriu”, meu caro Ary você afirma a determinado momento desse poema potentoso, que reflecte todo o ideário de Abril, ”agora ninguém mais cerra as portas que Abril abriu” , pois para mim essas portas estão mais cerradas que nunca.