Será Que Vale a Pena?
Confesso que por vezes tenho a tentação de deixar de dar a minha colaboração ao Rotundas isto porque a idade já pesa e aquilo que vou lendo, nomeadamente, em alguns jornais e até aqui neste blogue me deixam no mínimo desanimado.
Vem esta introdução a propósito de um artigo de opinião publicado no Mirante e assinado pelo seu director, Joaquim António Emídio, intitulado “um político sinistro “.
Se bem que reconhecendo que o politico sinistro foi também em parte uma construção da linha editorial do jornal que dirige, Joaquim António Emídio esquece-se de dizer que na sequência desse servilismo ao Dr. Rosa do Céu o jornal que dirige deveria ser extinto e que ele deveria, no minimo, entregar a carteira profissional de jornalista e dedicar-se a tudo menos ao jornalismo.
Mas não, em vez disso recebeu um prémio Prémio Imprensa Regional e acima de tudo dedicou-o ao politico sinistro que ajudou a criar, pois bem meu caro Joaquim António Emídio eu no seu lugar teria recusado o prémio em causa, como Sartre fez em relação ao Nobel por uma questão de princípios próprios, para poder deitar a cabeça no travesseiro e conseguir dormir descansado.
Mas o que posso eu esperar, em matéria de postura, dada a distância que separa Joaquim António Emídio de Jean Paul Sartre?
De qualquer das formas Sartre e Emídio teem algo em comum o 1º marcou uma época com uma corrente de pensamento filosófico que ainda hoje perdura e o 2º é o exemplo gritante de um país em plena decadência de valores e sem perspectivas de futuro.
“Quando a ética não está presente, a política é o pior frequentado dos bordéis” afirma, no seu artigo de opinião no jornal Correio da Manhã intitulado “ e do céu desceu a crise”, o advogado João Marques dos Santos, permito-me eu agora perguntar e no tocante ao jornalismo?
Pela sua maneira de estar na vida muitos dos já condenados por crimes contra a humanidade não o teriam sido bastando-lhes, para isso, reconhecerem a sua participação em genocídios, limpezas étnicas e tudo isso seria esquecido uma vez que eles no exercício das funções governativas ou outras apenas faziam o seu trabalho, como os jornalistas do Mirante faziam o deles carregando Rosa do Céu “ás costas” rumo ao poder, e as vitimas davam pau e costas, como o fizeram Raul Figueiredo e os seus companheiros, rumo ás valas comuns onde eram enterrados sem um qualquer tipo de dignidade.
Adolfo Hitler não teria necessidade de suicidar uma vez que no fim da 2ª Guerra Mundial os Aliados compreenderiam perfeitamente que parte dos 50 milhões mortos, por ela causados nos tristemente celebres campos de concentração do III Reich, apenas se deveram ao facto de existirem diferenças de opinião entre a policia politica e os exércitos da grande Alemanha, que sonhava construir um império com a duração de 1000 anos baseado na supremacia da raça ariana, e os judeus e ciganos sendo que os primeiros faziam simplesmente o seu trabalho e os segundos davam pau e costas.
Simon Wiesenthal nesta perspectiva foi um raivoso e inconsequente perseguidor de nazis, considerados por ele, injustamente, como criminosos de guerra, conseguindo que alguns deles fossem condenados á morte, uma vez que para este sobrevivente de vários campos de concentração” não deveriam escapar sem punição pelo assassinato de milhões de seres humanos” quando bastaria chamar-lhes, como o faz Joaquim António Emídio ao Dr. Rosa do Céu, de pacóvios e ter apenas pena deles.
Nesta ordem de ideias Saddam Hussein nunca seria condenado pela morte de milhares de pessoas do seu próprio povo por ser pacóvio e aos pacóvios tudo se perdoar.
Radovan Karadžić nunca seria perseguido por genocídio e limpeza etnica nem entregue ao Tribunal Internacional de Haia para ser julgado porque se tratava, igualmente, de um pacóvio de quem se deve ter pena.
Se isto se passa com estrangeiros então a nível interno os políticos do antigo regime deveriam merecer a nossa compreensão, mesmo quando ordenavam a prisão e morte, dos seus opositores, ao fim e ao cabo apenas faziam o seu trabalho eram pacóvios e os outros apenas davam pau e costas!
Para que preocupar-nos com a descoberta e punição dos culpados pelas mortes do General Humberto Delgado e da sua secretária Ajarir de Campos no fim de contas a PIDE fazia o seu trabalho e o “General Sem Medo” e a sua secretaria eram simples pacóvios a darem pau e costas!
Por ultimo para que deixar de ler o Mirante se na sua redacção “não existe a paz dos altares, se o tempo é de paz gozamos a paz. Se o tempo é de guerra vamos todos à guerra já que entre mortos e feridos alguém há-de escapar” sendo, por isso mesmo, “um jornal condenado ao sucesso “ e onde acima de tudo, em caso de necessidade, se consegue vender um frigorífico a um esquimó ou um aquecedor a um habitante de país equatorial, fabricar um politico sinistro e onde, para lá de tudo o mais, os pacóvios se fabricam e apoiam mutuamente!
Será que vale a pena continuar a escrever?