sexta-feira, setembro 29, 2006

Perigo

Anuar-al-Sadat, presidente do Egipto, foi assassinado por membros de um grupo extremista islâmico egípcio.
Na Argélia, o GIA, espalhou o terror causando milhares de mortes entre a população civil e membros do exército e da polícia quando estas forças de segurança foram chamadas pelo governo Argelino para reprimir as suas acções violentas.
Cabe aqui e agora perguntar o que levou egípcios e argelinos a caírem nos braços de grupos extremistas e a enveredarem por acções de extrema violência sobre os seus próprios concidadãos.
Pois muito bem uma análise às duas sociedades em causa revela vários factores em comum:
1º Durante um período de desenvolvimento ambas as sociedades abriram as portas do ensino a um número cada vez maior de cidadãos, o que teve por consequência o aparecimento de um maior número de jovens licenciados.
2º Estes licenciados ao saírem das universidades e escolas técnicas, geraram expectativas de ascensão tanto profissional, como social e económica a que os governos dos seus países não puderam, não souberam ou não quiseram dar resposta resultando numa elevada taxa de desemprego, que levou a ódios e ressentimentos habilmente explorados pelos lideres e ideólogos dos movimentos extremistas para o seu recrutamento.
3º O cada vez maior fosso entre a classe dirigente, com grande ostentação de riqueza e privilégios, e a grande maioria da população chegando em ambos os países a existir uma percentagem elevada desta que vivia abaixo do limiar da pobreza.
Transpondo para actualidade e para Portugal a situação atrás descrita podemos constatar que tirando o facto de o Presidente da Republica não ter sido assassinado e não termos nenhum grupo armado a causar milhares de vitimas, todos os factores que levaram que isso acontecesse tanto no Egipto como na Argélia estão patentes na sociedade portuguesa senão vejamos:
Cada vez mais jovens tem acesso ao ensino superior, e ainda bem que assim acontece, com o gerar de expectativas quase sempre goradas tanto no aspecto profissional, vide o numero cada vez maior de licenciados no desemprego, como aspecto económico e financeiro.
Cada vez se acentua mais a diferença entre ricos e pobres sendo neste campo de notar também aqui a ostentação de riqueza dos nossos governantes tanto a nível central, regional ou local sendo que a este nível as situações se tornam mais visíveis com autarcas megalómanos que arrastam as suas autarquias para o descalabro financeiro, mas que não abdicam do carro de topo gama a ser adquirido pelo dinheiro da autarquia, mas seu uso pessoal, de chorudos ordenados e demais mordomias enquanto nos seus concelhos autenticas legiões de desempregados, por via de falências fraudulentas e deslocalizações selvagens, caminham a passos largos para uma vida abaixo do limiar da pobreza.
Agora com a nova lei das finanças locais muitos municípios ficarão impossibilitados de recorrer ao credito por largo período de tempo, mas os apologistas da actual situação de desigualdade gritante entre representantes e representados, já advogam por um lado a inconstitucionalidade da lei e por outro como sendo um ataque ao poder local a principal vitória da democracia de Abril em Portugal, mas tenho cá para mim que se nada for feito este poder local dito democrático será, conjuntamente com os poderes regionais e central, a principal causa da sua derrota.
A bomba está armada, o rastilho posto agora è só alguém pôr-lhe fogo, o que não demorará muito a acontecer dada a convulsão social que se avizinha, devido ao colocar-se em causa interesses corporativos à muito instalados.
A democracia está em perigo e parece que a maioria parece não ligar e assobia para o lado.