Se o ambiente politico em Portugal se degradava a olhos vistos com sucessivos escândalos, dos quais ressaltavam os sucessivos adiantamentos financeiros à casa real, piorou significativamente quando o rei, D. Carlos I, decidiu nomear, em Maio de 1906, para Presidente do Ministério João Franco que de imediato iniciou uma politica ditatorial!
O descontentamento aumentou, sendo de realçar com os protestos dos produtores vitivinícolas nos quais teve papel de destaque José Relvas.
O ambiente era propicio a conspirações tanto para derrubar o Presidente do Ministério como para alterar o próprio regime.
Desta situação de descontentamento generalizado capitalizavam o Partido Republicano e as sociedades secretas, Maçonaria e Carbonária, que viam agora alguma luz “ao fundo do tunel” para a concretização dos seus objectivos: o fim da Monarquia, que nos governava à mais de 8 séculos, e a instauração de um novo regime: a Republica.
Os sinais eram mais do que evidentes mas os dirigentes politicos não viam, ou fingiam não ver, de tal forma que no dia 1 de Fevereiro de 1908, aproveitando o regresso a Lisboa da familia real de uma estadia em Vila Viçosa e já no Terreiro do Paço, Manuel Buiça, professor primário expulso do exercito, e Alfredo Costa, empregado do comércio e editor de obras de escândalo, dispararam a matar e com sucesso sobre o rei D. Carlos I e o principie herdeiro D. Luis Filipe deixando com vida D. Manuel II e a Rainha D. Amélia de Orleans e Bragança.
Dois anos depois, a 5 de Outubro de 1910, D. Manuel II e sua mãe embarcavam na Ericeira rumo ao exílio enquanto na capital o Directório do Partido Republicano, na varanda da Câmara Municipal de Lisboa, pela voz de José Relvas, anunciava o nascimento em Portugal de um novo regime baseado nos valores da democracia e da revolução francesa: a Republica.
Dezasseis anos e depois de muita instabilidade, da qual resultou o assassinato de um Presidente da Republica, Sidónio Pais, de muita fome de poder e corrupção, a 28 de Maio, saiu de Braga com destino a Lisboa, com objectivo de estabelecer a “ordem e os valores nacionais”, o general Costa Gomes.
Como resultado sobe ao poder primeiro como Ministro das Finanças e depois como Presidente do Conselho de Ministros, António de Oliveira Salazar, inaugurando um projecto politico pessoal denominado Estado Novo que se vai prolongar até 25 de Abril de 1974.
47 anos depois de novo o descontentamento, a nível politico, era evidente, a guerra colonial minava a sociedade portuguesa e desgastava a imagem dos dirigentes.
O mau estar alargou-se ás Forças Armadas, com especial destaque aos capitães, o General António de Spinola, antigo governador da Guiné, onde substituiu Kauza de Arriaga, publica o seu livro Portugal e o Futuro.
De novo os politicos não viram, ou não quiseram ver, e em 1974, primeiro em Março e depois em Abril, desta vez com sucesso os militares saíram à rua e colocaram fim ao velho “Estado Novo”, com ele foi, primeiro para a Madeira e depois para o Brasil, o ultimo Presidente do Conselho da ditadura.
O militares de Abril embuidos dos mesmos ideais dos heróicos de Outubro voltaram a uma republica voltada para os valores da revolução francesa: liberdade, igualdade e fraternidade, fizeram uma descolonização, que deu aos povos africanos sob a administração portuguesa o direito a decidirem o seu destino permitiram aos civis, depois da realização de eleições gerais livres para eleição de uma Assembleia Constituinte, a concepção de um monumento jurídico: a Constituição da Republica Portuguesa de 1976.
A 12 de Março de 2005 toma posse o XVII Governo Constitucional presidido por José Sócrates, Secretário Geral do Partido Socialista, tendo como Ministro das Finanças, Fernando Teixeira dos Santos, que à semelhança de Oliveira Salazar, tem os olhos colocados na diminuição do déficit imposto por Bruxelas.
Tanto este 1º Ministro como este Ministro das Finanças apoiados na Assembleia da Republica, por uma maioria socialista, iniciaram uma politica nada condicente com os ideais de Abril e em tudo parecida com a de João Franco no tempo de D. Carlos I.
De novo a insatisfação volta à sociedade portuguesa quer na sua vertente civil como militar onde os sinais de desconforto são por demais evidentes.
Reflexo desta realidade é a entrevista dada por António Marinho Pinto, Bastonário da Ordem dos Advogados, ao programa de Judite de Sousa Grande Entrevista.
No decorrer do programa, o advogado e jornalista de Coimbra, faz denuncia de casos de corrupção na area económica onde estão envolvidos dirigentes locais, regionais e nacionais dos dois maiores partidos politicos portugueses.
Na area legislativa denuncia a existencia de pressões, por parte de alguns deputados, para a inclusão no diverso articulado de algumas leis de preceitos favoráveis aos clientes que representam através dos mais variados escritórios de advogados, isto é, legislam em causa própria!
Na area da justiça denuncia a existencia de “uma justiça forte para os fracos e fraca para os fortes”, “de uma justiça que coloca por sistema na cadeia pobres portuguesa crimes menores e deixa em liberdade os grandes criminosos de colarinho branco”, “de uma policia criminal, a Policia Judiciária,” organicamente tutelada pelo Ministério Publico, que representa o estado, logo os cidadãos, mas que na prática se encontra “em roda livre” e governamentalizada dado que o seu Director Nacional é nomeado pelo Governo.
Denuncia também uma corrupção galopante que mina os alicerces da democracia que leva ao descrédito do sistema e ao cada vez maior afastamento entrevista politicos, instituições e população em geral para quem a democracia é vocacionada.
Marinho Pinto não é apenas um bom advogado, é o Bastonário da Ordem, as suas palavras têm, e tiveram repercussões mas não no sentido que ele pretendia e, por isso, vai ser ouvido pelo Ministério Publico não para ver até que ponto as suas palavras de denuncia ajudam a mudar o rumo dos acontecimentos mas para, no limite, o constituírem como arguido e lhe selarem a boca com o segredo de justiça!
As Forças Armadas não participaram nascimento comemorações dos 100 anos de Regicidio apesar do Presidente da Republica, Anibal Cavaco Silva, seu Comandante Supremo nelas ter tido participação activa!
A Assembleia da Republica não aprovou um voto de pesar pelo assassinato do Rei D. Carlos!
A prepotencia, a corrupção e o compadrio grassam desde a administração central à local e os sinais são, de novo, muito evidentes de que um qualquer General Costa Gomes, em nome dos valores nacionais, se pode estar a preparar para de uma qualquer Braga iniciar um novo Estado Novo com um novo Oliveira Salazar como 1º Ministro.
Depois não digam que não viram e que o velho Gandalf não os avisou a tempo.